terça-feira, 7 de agosto de 2018

A Coisa


Sílvia chegou em cima da hora. As aulas têm início as 7:15. Os professores e demais funcionários eram obrigados a chegar uma hora antes. Sílvia para em frente a sala dos professores, olha no relógio marcando 6:20, respira fundo abre a porta e entra. A sala estava cheia.
O professor de matemática terminava de corrigir as últimas provas, do outro lado da mesa o professor de história discutia com o professor de geografia sobre as diferentes abordagens políticas de seus candidatos. Sílvia vai até a mesa onde estão três garrafas, duas de café, uma contendo café com açúcar e outra sem açúcar. Do lado uma garrafa com chá. Ela escolhe a garrafa contendo o café adocicado, na correria ela esquecera de tomar café da manhã. Ela já estava de licença a mais de três meses. Todos se aproximaram e a cumprimentaram dando boas-vindas.
- Bem-vinda grande guerreia -  comentou a professora de artes.
- Bem-vinda de volta, você fez falta. – Disse o professor de português.
- Precisando de qualquer coisa Sílvia, pode contar com a gente.
- Obrigada gente, creio que irei fazer a vida de todos melhores – Disse Sílvia com um sorriso forçado no rosto.
O relógio marca (7:15) e uma sirene toca avisando o começo das aulas, um alvoroço acontece, as crianças levantam e sobem as escadas, umas animadas e outras nem tanto.
- Bem... mais um dia começando. Não vejo a hora do final de semana chegar para tomar aquela cervejinha esperta – comentou o professor de química esticando as costas. -  Esses meninos ainda me matam.
- Cuidado para não beber demais, senão vai perder a moral na hora de pagar sapo nos alunos. – O professor de matemática metido a bonachão.
Sílvia foi para a sua sala. Não era uma sala muito grande, tinha um tamanho relativamente médio, era do lado da sala da coordenadora pedagógica, ela entrou colocou sua bolsa na mesa e ligou o computador. Seu médico sugeriu que ela parasse de dar aula e fosse para uma área sem muita exposição. Ela então assumiu a vice coordenação pedagógica, na qual seu trabalho era auxiliar as crianças com problemas de estudo. Ela se sentou, tomou dois comprimidos e foi checar o e-mail.
O colapso nervoso já havia acontecendo fazia algumas semanas, ela estava sob stress, ela reclamava de as vezes ver coisas, escutar coisas, mas o auge do colapso aconteceu enquanto ela dava aula, ainda não se sabe a real causa. Ela estava falando sobre a vida de Edgar Allan Poe:
- Edgar Allan Poe, poeta, escritor, crítico e contista norte-americano, nasceu em janeiro de 1809 em Boston, Massachusetts -1849) e é considerado o pai e mestre da literatura de horror. Órfão aos dois anos, foi criado por um rico comerciante do estado da Virgínia. Iniciou sua esmerada educação na Inglaterra e na Escócia, frequentou a Universidade da Virgínia onde passou a dedicar-se mais aos jogos e à bebida, não aos estudos. Isso fez com que rompesse suas relações com seu tutor. Em 1827, lançou seu primeiro livro de poesias. Expulso da Academia Militar de West Point, entregou-se totalmente à literatura, publicando contos em revistas. O poema "O Corvo", de 1845, é talvez o mais famoso poema da literatura dos Estados Unidos. Alcoólatra, encontrou no casamento com sua prima Virgínia, de apenas 13 anos, forças para lutar contra o vício e aumentar sua produção literária. Com a morte de Virgínia, vitimada pela tuberculose como seus pais, voltou ao alcoolismo, passando a viver em constante embriagues. Em 1849, passa mal em uma taberna de Baltimore e, mesmo socorrido, vem a falecer.
- Ele foi responsável por trazer o horror e o começo da história policial, seus contos eram marcados por sinais de loucura e uma morbidez, ele começava sempre seus textos com.  – Nisso Sílvia sentiu uma leve tontura, segurou na mesa, nisso os colegas começaram a se aproximar
- Fessora, você está bem?
- Eu acho que vou desma... – Sílvia cai no chão. Logo depois ela apenas lembra de estar no hospital com um monte de cartões desejando uma feliz recuperação, feito por alunos e professores.
A escola tinha turmas de 5ª até a 8ª serie, o recreio começava as 10:00 e terminava as 10:20. O pátio era sempre barulhento. Havia dois pátios, um pátio coberto onde ficava a biblioteca e um pátio aberto onde ficava a quadra poliesportiva. Algumas crianças jogavam futebol, outras conversavam e algumas mais reclusas ficavam na biblioteca.  Sílvia desceu as escadas, ela sempre gostara de passar um tempo na biblioteca, rever os antigos clássicos da literatura.
- Olá professora Sílvia – comentou Jonas, um bibliotecário alto de óculos fundo de garrafa – Fiquei sabendo agora pouco que você se recuperou de um colapso nervoso.
- É ainda estou me recuperando. Não sou mais professora, agora mexo com a parte de coordenação pedagógica.
- E o que te traz aqui no mundo magico da literatura?
- Ah Jonas... você sabe, minha paixão está nos livros.
- Fique à vontade professora, ops desculpe, coordenadora.
- Não, não. Pode me chamar de professora, eu não me importo.
Ela entrou no primeiro corredor e foi andando olhando as prateleiras, ela sempre gostou muito de ler, desde pequena ela tem lembranças de sua avó dar de presente o livro Oliver Twist do Charles Dickens. Ela se emocionou com a triste história do pequeno Oliver. A história era um retrato de uma Inglaterra vitoriana, no ápice da revolução industrial. O autor relatou a pobreza e a hipocrisia das famílias mais abastadas. Achava um absurdo Noé Claypole no final ter se dado bem. Ela queria que Oliver fosse seu irmão e amigo. Quando ficou mais velha começou a ler historias mais pesadas e mergulhou de vez nos clássicos. Ela já não pertencia mais a esse mundo comum. Ela agora conhecia o mundo da literatura.
A maioria dos livros na prateleira ela já havia lido. Ela matou a saudade lendo um livro dos melhores contos de Edgar Allan Poe, o seu favorito ainda era Gato Preto. Ela teve a mesma reação de medo quando o personagem matou a sua mulher e escondeu na parede.
“Um dia, acompanhou-me, para ajudar-me numa das tarefas domésticas, até o porão do velho edifício em que nossa pobreza nos obrigava a morar, O gato seguiu-nos e, quase fazendo-me rolar escada abaixo, me exasperou a ponto de perder o juízo. Apanhando uma machadinha e esquecendo o terror pueril que até então contivera minha mão, dirigi ao animal um golpe que teria sido mortal, se atingisse o alvo. Mas minha mulher segurou-me o braço, detendo o golpe. Tomado, então, de fúria demoníaca, livrei o braço do obstáculo que o detinha e cravei-lhe a machadinha no cérebro. Minha mulher caiu morta instantaneamente, sem lançar um gemido.
Aquela adega se prestava muito bem para tal propósito. As paredes não haviam sido construídas com muito cuidado e, pouco antes, haviam sido cobertas, em toda a sua extensão, com um reboco que a umidade impedira de endurecer. Ademais, havia uma saliência numa das paredes, produzida por alguma chaminé ou lareira, que fora tapada para que se assemelhasse ao resto da adega. Não duvidei de que poderia facilmente retirar os tijolos naquele lugar, introduzir o corpo e recolocá-los do mesmo modo, sem que nenhum olhar pudesse descobrir nada que despertasse suspeita.
Arranjei cimento, cal e areia e, com toda a precaução possível, preparei uma argamassa que não se podia distinguir da anterior, cobrindo com ela, escrupulosamente, a nova parede. Ao terminar, senti-me satisfeito, pois, tudo correra bem. A parede não apresentava o menor sinal de ter sido rebocada. Limpei o chão com o maior cuidado e, lançando o olhar em tomo, disse, de mim para comigo: “Pelo menos aqui, o meu trabalho não foi em vão...”” - Ela foi interrompida pelo sinal avisando que o recreio tinha acabado. Ela guardou o livro na prateleira e subiu para sua sala.
Semana seguinte foi anunciado que haveria um evento cultural depois do feriado. Cada turma deveria se juntar para elaborar um projeto que envolvesse música, poesia e literatura. Sílvia estava animada, sua cabeça imaginava várias coisas legais que poderia dar certo.
- Quem sabe uma peça de teatro de Dom Casmurro, uma apresentação de ballet....
Faltando dois dias para o famoso dia cultural uma notícia atrapalhou tudo, o computador pifou e não ficou pronto a tempo as fixas de avaliação dos eventos. Como a Sílvia estava responsável pela coordenação do evento, ela havia insistido para tomar essa posição, ela viu esse problema como apenas um imprevisto e ela mesmo decidiu resolver.
- Tem certeza? Você vai ficar aqui até mais tarde, quem sabe virar a noite. – Disse a coordenadora principal.
- Eu dou conta do recado, não se preocupe.
- Mas e sua doença? Sabe que não pode se esforçar muito.
- Não tem problema, terei meus remédios, e fazendo algo que gosto não há o que me preocupar.
- A noite pode ser bem solitária.
- Não se preocupe, eu trabalho melhor sozinha.
Sílvia foi para casa e voltou as 17:00. A tarde a escola também funcionava para as turmas pré escolares do jardim de infância até a 4ª serie. Como era véspera de feriado havia uma felicidade no ar. Ela parou seu Sendeiro verde perto da praça que ficava em frente ao colégio. Desceu com as folhas e materiais e entrou pela entrada lateral. Sorriu para o zelador.  Ela desviou dos alunos que corriam brincando de pique pega. Subiu as escadas até a sala dos professores e lá ficou.
Já estava escurecendo. O relógio marcava 20:00, as luzes da escola estavam todas apagadas com exceção da luz da sala dos professores.
- Está tudo bem ai senhora? – Disse Manuel o vigia noturno. Ele segurava uma lanterna e um bolo de chaves pendurada na calça. – Precisa de alguma coisa?
- Está sim, obrigada por perguntar.
- Estou perguntando, pois irei fechar a escola e ficarei do lado de fora vigiando a rua, então quando terminar de sair, me dá um toque que abro o portão.
- Que bom que você falou, poderia me passar as chaves das salas e da biblioteca?
- Claro, aqui está.
Manuel então saiu pelo portão e trancou com um cadeado e sentou em sua cadeira de plástico e colocou os fones de ouvidos para assistir ao jogo São Paulo e Vasco. O celular de Sílvia despertou notificando que estava na hora de tomar o remédio. Ela então procurou na bolsa e não encontrou.
- Droga esqueci o remédio em cima da bancada de casa. – Sílvia irritada jogando a bolsa na mesa.  -  Ah, mas deixa para lá. Estou bem, afinal já estou quase terminando.
O relógio na parede marcava 22:30, Sílvia estava empenhada no serviço, não notou o tempo passando. Ela lembrou que existe um livro na biblioteca sobre a literatura do Século XIX, que irá enriquecer ainda mais o projeto.
Ela resolveu ir até a biblioteca, desceu as escadas e passou por uma sala vazia. Então um som que fez ela gelar a espinha, era um som como se fosse barulho de algo rangendo.
- Deve ser alguma janela aberta ou talvez o vigia. É deve ser isso. -  Sua mente a confortou. Ela continuou andando, entrou na biblioteca agora vazia e assustadora. Pegou o livro e foi andando de volta. Ela passou por uma sala e a luz estava acesa e a janela aberta.
- Puxa vida. Esqueceram de apagar essa luz. Esse pessoal não sabe que a luz está cara? Segunda Feira vou convocar uma reunião para falar disso. – Ela fecha a janela e apaga a luz.
Ela segue seu caminho. Ao virar um corredor escuta barulho de passos e vê pelo canto do olho um vulto correndo. Isso faz seu coração acelerar. Ela tenta lembrar dos exercícios de pânico que ela aprendeu com a psicóloga.
- Está tudo bem, é apenas coisa da minha cabeça, esqueci de tomar a dose é isso. Amanhã eu tomo e está tudo bem.  – Ela abre os olhos e está tudo como devia estar. Ela ainda escuta um barulho de rangido, como se tivesse algo sendo arrastado. Ela volta correndo para a sala e pega seu celular, ele está com 1% de bateria. Ela tateia na bolsa procurando o carregador, mas não encontra, havia esquecido em casa, provavelmente do lado do remédio em cima da bancada.
- Que estupida que sou. Como fui esquecer duas coisas importantes? Já chega de trabalhar, vou para casa. Amanhã continuo. -  Ela apagou as luzes, trancou a sala dos professores e foi descendo as escadas quando sente algo passando correndo atrás dela. Sua espinha gela e ela soa frio. Ela pega seu celular e tenta ligar para o vigia, o telefone não chega a completar a ligação.
- Maldito celular, tinha que acabar a bateria logo agora. O jeito é bater no portão e torcer para ele abrir.
O barulho de algo arrastando continua e Sílvia nota que está ficando cada vez mais alto. Ela acelera os passos, descendo as escadas ela percebe que “Algo” também acelerou os passos. Ela tenta virar o corredor e olhar o que é. Mas não tem coragem. -  Será que isso é real ou apenas estou delirando?  - Sua mente funcionada a todo vapor - Será que estou tendo outro colapso nervoso?
Sílvia apesar de frequentar igreja desde pequena, nunca fora religiosa. Seu cérebro não conseguia conceber a ideia de que existem coisas sobrenaturais. Ela com a pulsação acelerada respira fundo e tenta raciocinar. – Quem sabe é alguém fazendo alguma brincadeira de mal gosto. Alguém que sabe do meu colapso nervoso e quer fazer um trote. O barulho ia se aproximando, era um andar calmo e sádico, Sílvia se sentia como um prisioneiro esperando o seu carrasco, ela havia sido julgada e condenada. Ela pensou que isso era uma punição por ter convencido Jonas seu amigo de infância a subir em uma árvore para pegar uma maça, ela sabia que o garoto era apaixonado por ela, ele não iria recusar, sua mãe lhe ensinou que um homem apaixonado não recusa um pedido de sua princesa.
O garoto subiu, porem ele não viu que havia um ninho de vespas, assim que ele encostou na maça o galho balançou e as vespas vieram para cima dele, ele se desequilibrou e caiu da árvore batendo a cabeça em uma pedra, morrendo imediatamente. Ela nunca se perdoou por isso. Será o universo cobrando sua dívida?
A “coisa” se aproxima e ela dá um grito abafado e sai correndo. Falta pouco para chegar perto do portão – ela pensou. Ela tropeça e cai torcendo o tornozelo.
- Aiii, meu pé. – Ela tenta se levantar, mas a dor não deixa. Ela sente A Coisa se aproximando. Ela respira fundo e vai se arrastando.
- Falta pouco, minha salvação está quase ali.  - Ela vê o portão com o vigia sentado de costas, é só bater no vidro que ele irá abrir. O vigia estava totalmente alheio a tudo que estava acontecendo, o seu time havia acabado de fazer um gol. Ela sente algo encostando em sua perna, ela sente algo perfurando a pele, ela tem medo de olhar. Ela tenta rastejar mais rápido “Aquilo vai me pegar”, então coloca a mão suja de sangue espalmada no vidro fosco. Era o seu fim.



Postado por Caio Geraldini

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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Em Busca de um Sonho

Ângela Barros chega de táxi em um prédio de sete andares. Ela paga o taxista. Ângela descobriu um teste para figurante em uma novela programada para as 14 horas.
Ângela entra no apartamento no 5º andar. Coloca as malas no chão e anda pela casa. A faxineira da imobiliária havia deixado tudo pronto. Abriu a geladeira e viu que estava vazia. Olhou os quartos, o banheiro, voltou para a sala e pegou suas malas e levou para o quarto. Trocou de roupa e foi almoçar em um restaurante de esquina.
“Se eu passar nesse teste, será a realização do meu sonho de criança. Tomara que dê certo” Pensou Ângela no caminho ao restaurante.
Ângela estava na porta do estúdio as 14 horas. Ela havia chegado atrasada e já estava lotado, havia uma senhora gorda de cabelos loiros em uma mesa com as pernas para cima. De tempos em tempos ela berrava: “PRÓXIMO” assim que uma das participantes saiam com o rosto abatido, desejando uma segunda chance.
“Se eu tivesse dormido cedo noite passada eu teria me saído melhor” Pensou uma linda garota ao passar pela senhora gorda. A gorda apenas deu um sorriso e gritou “PRÓXIMO”.
- Ângela, Tome aqui o seu crachá- A gorda entregou um crachá para Ângela -  Sente naquela cadeira que iremos te chamar.
Ângela sorriu e sentou junto das demais. As concorrentes eram lindas, estavam todas bem vestidas e cabelo impecável. Seria difícil conseguir o papel, mas ela já tinha ido longe demais e não iria desistir tão facilmente. Cerca de 2 horas depois, a sala estava vazia só restando ela e a mulher obesa.
- PRÓXIMO! – A mulher gorda gritou.
Ângela já tinha lido uma revista de moda da edição de primavera de 1998 inteira várias vezes, já sabia de cor que Pâmela Andes havia desfilado com um vestido vermelho com detalhes de flores de rosas. Ela fechou a revista se levantou e entrou na sala. A sala era grande, tinha um telão branco e dois holofotes do lado e uma câmera no meio, um armário e um provador. Um homem de media estatura, cabelos grandes e usava óculos azul.
- Olá, você deve ser a Ângela Barros. Seja bem vinda – falou com um sotaque francês aportuguesado.
- Obrigada – Ângela disse.
- Por favor se dirija ao provador e troque de roupa.
Ângela foi até o provador e colocou um vestido branco, voltou e parou na frente do telão branco, uma assistente apareceu e ajeitou o seu cabelo. O diretor foi até ela e entregou o roteiro. A cena era em uma praça, o protagonista e a protagonista estariam conversando no banco da praça e a garota de vestido branco iria passar andando e dar boa tarde para os dois.
- Leia esse texto minha querida – diz o diretor.
- Boa Tarde. – Ângela falou de forma mecânica.
- Mais uma vez, com naturalidade como se estivesse andando no parque e diz boa tarde.
- Boa Tarde. – Soou natural o bastante.
- Sim, obrigado, só um momento enquanto conversamos aqui.
Ela volta para a recepção a gorda da outra olhada nela e continua fazendo palavras-cruzadas. Passou uma hora, o próprio diretor abre a porta e chama por Ângela.
- Você é uma garota de sorte, foi escolhida para interpretar uma figurante. Começamos as filmagens daqui a 4 dias.
Ângela sai com um sorriso radiante. Sempre sonhara em ser atriz, adorava assistir novelas. Era apaixonada pela indústria da teledramaturgia. Ela vai ao mercado e compra algumas coisas. Em casa sua cabeça já funciona a mil por hora. Antes de dormir, fica treinando no espelho o seu “Boa Tarde”.
Ângela chega ao estúdio. Já haviam começado as primeiras tomadas dos protagonistas no apartamento e agora os dois saíram para passear no parque.
“Então minha querida, você vai andar pelo parque, os dois vão estar sentados discutindo uma briga que tiveram na noite passada e você vai passar por eles e dar boa tarde.” Diz a assistente do diretor enquanto encaminha Ângela para o provador. Ângela coloca novamente o vestido branco e vai até à praça. O céu estava especialmente azul com poucas nuvens.
- E AÇÃO. – Grita o diretor
Os protagonistas andam pelo parque de mãos dadas, eles sentam em um banco de madeira.
- Eu ando muito estressado. Por isso gritei com você daquele jeito, me perdoa – Disse o personagem.
- Você tem que escolher não deixar o seu trabalho afetar nossa relação, poxa. – Fala a protagonista.
Ângela se aproxima com um sorriso no rosto e diz “Boa Tarde.”
- CORTA – maravilha. Recomeçamos depois do almoço.
Vários repórteres de revistas e blogs de fofoca furaram o bloqueio para tirar fotos e entrevistar os atores. Em alguns minutos a locação estava cheia de gente e Ângela ficou no canto olhando aquilo. “Tomara que um dia eu esteja lá no meio, dando entrevistas.”
Ângela veio do interior do Estado, uma cidade pequena com pouco mais de mil habitantes. A cidade tinha como principal fonte de renda a agropecuária. Sua família o pai era fazendeiro semianalfabeto e a mãe largou a escola com 18 anos quando se casou. Desde então cuida da casa. O casal teve cinco filhos, quatro homens e Ângela a mais nova. Os filhos trabalhavam ajudando o pai na fazenda enquanto Ângela ajudava na casa. Seu futuro era se casar e assim como a mãe seria uma dona de casa.
Quando Ângela contou a sua família seu sonho de ir para a capital tentar ser atriz de novela, sua mãe desmaiou e o pai bateu a mão tão forte na mesa que quase a partiu no meio.
- Minha filha, você está proibida de pensar nessa possibilidade, onde já se viu. Uma garota se envolver com aquela “gentinha” que só sabem se prostituir, e ficar esbanjando dinheiro por ai. – Disse o pai elevando a voz.
- Mas... pai...
- Nada de “mas pai” está proibida. – Disse o pai de forma incisiva.
- Mas é meu sonho. - Ângela tentou argumentar.
- Seu sonho é ficar aqui, ajudar a sua mãe na casa, se casar, ter filhos e ajudar a sua casa e por ai vai.
- Minha filha, escute o seu pai. Aquela gente não presta, são predadores - Dizia sua mãe em prantos.
- Eu vou ser famosa, irei trazer dinheiro para nossa casa.
- Não queremos aquele dinheiro sujo de prostituição, drogas e jogos. – Seu pai deu outro murro na mesa assustando o cachorro que dormia embaixo da mesa. Essa raiva toda não durou uma semana. Na outra semana eles conversaram e resolveram apoiar a filha. No dia da despedida a família toda estava na estação de ônibus. A mãe chorava e o pai abraçou Ângela. “Minha filha, tome cuidado, não confie cegamente em ninguém. Esse pessoal é como lobos famintos procurando uma nova vítima, seja mais esperta que eles.” Disse o pai dando um beijo na testa da filha.
- Toma cuidado. Mamãe ama muito você – Disse a mãe abraçando.
Ângela estava em casa cuidando de uma jardineira quando recebeu um telefonema, era um agente falando que viu sua atuação na cena da praça e achou maravilhosa. Ele perguntou se ela queria ser agenciada. Ela agradeceu e disse que ia aceitar, afinal era seu sonho pensou ela.
- Ok, passo ai as 15 horas para assinarmos os papeis.
Ela assina o contrato e passou a ser agenciada. Uma semana se passou, de manhã ela acorda com um telefonema de seu agente dizendo que conseguiu um papel de destaque em uma novela, não era um papel principal, porem ela iria fazer mais que dar boa tarde. A novela foi um sucesso, ela foi indicada ao Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante.
Ângela havia sido convidada para festa de estreia como protagonista. Ela chegou no seu carro esporte, o manobrista abriu a porta e ela desceu. Ângela estava vestida com um lindo vestido cor azul turquesa. Logo na entrada viu o diretor da sua primeira novela de sucesso, ele estava com duas mulheres cada uma em seus braços.
Dentro do salão de festas os convidados estavam dançando; velhos empurravam moças para trás em incessantes giros desajeitados, casais que dançavam melhor se enlaçava tortuosamente, com elegância, conservando-se nos cantos, e um grande número de moças sozinhas dançavam individualmente. À meia-noite a alegria havia aumentado. Um DJ famoso da Europa colocou uma música animada e todos se animaram. Ângela encostou em um bar. Um homem muito bonito se aproximou.
- Olha se não é um anjo que foi expulso do céu e agora habita as noites das grandes cidades. Meu nome é Jordani, sou um ator, fiz várias novelas e filmes. A quem tenho a honra?
- Meu nome é Ângela. É a minha primeira festa desde que estreei a nova novela das oito. Estou meio perdida.
- Encantado – Jordani beijou a mão de Ângela. – Serei o seu guia então.

Alguns meses mais tarde. Se casaram em uma cerimônia discreta e passaram a lua de mel nas ilhas gregas. Tiveram três lindos filhos. Ela continuou fazendo novelas e se aposentou com 56 anos.

Postado por Caio Geraldini

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sábado, 25 de novembro de 2017

Apolo e Dafne

Certa manhã estava o deus Apolo passeando pelos campos verdes da Grécia quando viu Cupido mirando suas flechas do amor em vários casais.
- Ora ora se não é o Cupido filho de Afrodite. – Gritou Apolo fazendo Cupido errar e acertar a flecha na árvore.
- Se não é o deus sol me perturbando. Não tem nada para fazer? – Questionou Cupido mal-humorado.
- Não. Acabei de voltar de uma missão. Derrotei a cobra Píton. Dei uma flechada certeira bem no meio da testa. Mandei ela direto para o Tártaro. – Apolo girou a mão e uma macieira cresceu do seu lado e ele pegou uma maça.
- Ah que maravilha. Por que então não vai fazer uma poesia ou compor uma canção? – Cupido tirou outra flecha da aljava e voltou a mirar no casal de pássaros.
- Não fique com inveja. Você é apenas uma criança, um dia quando crescer será tão bom quanto eu. - Apolo surgiu na frente da mira fazendo Cupido errar novamente, a flecha caiu dentro do lago.
- Eu já sou bom. Sou o responsável por fazer os seres vivos se apaixonarem. Nunca errei uma flecha sequer.
- Hum... Nunca errou uma flechada? Hoje estou de bom humor. Que tal fazermos um concurso de tiro ao alvo? O melhor arqueiro ganha maças de ouro.
- E o perdedor?
- Será declarado o melhor arqueiro do Olimpo.
- Ok, combinado.
Apolo tirou o seu arco e flecha das costas e mirou em uma mosca que estava parada degustando uma maça podre. A flecha acertou a mosca e a prendeu na pedra. Cupido mirou em uma formiga que estava carregando uma folha, Apolo então fez a luz solar atrapalhar a visão do deus do amor e ele acabou errando.
- É parece que venci. Sou o melhor arqueiro do Olimpo.
- Você trapaceou – Gritou o deus do amor.
- Tem como provar? Admita logo Cupido. Eu sou melhor arqueiro que você, eu sou perfeito. Você não passa de um bebe chorão. Agora vá buscar minha maça de ouro. Toda essa competição me deixou com fome.
Cupido então desapareceu em uma nuvem de pétalas de rosas. Apolo transformou o seu arco e flecha em um violão e começou a cantar uma música sobre o que tinha ocorrido e acabou cantando que tinha trapaceado.
Cupido escutou a confissão de Apolo e ficou furioso. Ele apareceu em cima da rocha do Parnaso e tirou da aljava duas setas diferentes, uma feita para atrair o amor; outra, para gerar repulsa. A primeira flecha era de ouro e a segunda de chumbo.
Com a seta de ponta de chumbo acertou a ninfa Dafne, filha do deus do rio Peneios, e com a outra feriu Apolo no coração. Sem demora o deus foi tomado de amor pela donzela e ela sentiu horror à ideia de amar.
Dafne sentia prazer em fazer caminhadas pelos bosques e praticar caça. Muitos amantes a buscavam, mas ela recusava todos.
- Filha, quando ira me dar um genro e netos? - Seu pai muitas vezes lhe dizia.
Sentindo total aversão ao casamento, com as belas faces coradas, ela o abraçou, implorando - Concede essa graça, pai querido! Faça com que eu não me case jamais.
- Mas filha, o casamento é algo divino. É o que nos mantêm eternos sobre a terra? Tem certeza que quer abrir mão disso?
- Sim, eu tenho certeza. Casar é algo apenas para humanos. Eu não quero isso. Quero aproveitar a vida de forma plena.
- Ok filha, se assim deseja. Eu juro ao rio Estige que você jamais irá se casar – Disse o pai dando um beijo em sua testa.
- Obrigada papai. Te amo.
Apolo se apaixonou assim que colocou os olhos na linda Dafne. Ele lutou para obtê-la; ele, que era o deus da profecia estava cego e não previu seu próprio destino. Vendo os cabelos caírem desordenados pelo ombro da ninfa, imaginou “Se são tão belos em desordem, como deverão ser quando arranjados?” Viu seus olhos brilharem como estrelas; seus lábios, e não se deu por satisfeito só em vê-los. Admirou suas mãos e os braços, nus até os ombros, e tudo que estava escondido da vista imaginou mais belo ainda viu seus olhos brilhavam como estrelas. Ele a seguiu por onde ela ia, mas ela fugia, mais rápida que o vento.
- Espere filha de Peneios! – ele exclamou. - Não sou um inimigo. Não fuja de mim, como a ovelha foge do lobo, ou a pomba do gavião. É por amor que te persigo. Sofro de medo que, por minha culpa, caias e se machuque nessas pedras. Zeus é meu pai, sou o senhor de Delfos e Tenedos, conheço todas as coisas, presente e futuro. Sou o deus do canto e da lira. Minhas setas voam certeiras para o alvo. Uma seta mais fatal que as minhas atravessou-me o coração! Sou o deus da medicina e conheço a virtude de todas as plantas medicinais. Ah! Sofro de uma enfermidade que bálsamo algum pode me curar.
A ninfa continuou a sua fuga, não dando importância ao que o deus sol falava. O vento agitava-lhe as vestes e os cabelos desatados lhe caíam pelas costas.
O deus sentiu-se impaciente ao ver desprezados as suas súplicas e juras de amor, e excitado por Cupido, diminuiu a distância que o separava da jovem. Era como um cão perseguindo uma lebre, com a boca aberta, pronto para apanha-la, enquanto o débil animal avança, escapando no último momento. As forças de Dafne começam a fraquejar e, prestes a cair.
- Ajude-me, Peneios! Abre à terra para me envolver, ou muda minhas formas, que me tem sido tão fatal! - ela invoca seu pai.
Mal pronunciara estas palavras, um torpor ganha todos os membros. Seu peito começou a revestir-se de uma leve casca, seus cabelos transformaram-se em folhas, seus braços mudam-se em galhos, os pés cravam-se no chão, como raízes, seu rosto tornou-se o cimo do arbusto, nada conservando do que fora, a não ser a beleza.
Apolo ao ver isso, aumentou os passos e chegou em frente ao lindo arbusto, ele abraçou-se aos ramos da árvore e beijou ardentemente a madeira. Os ramos afastaram-se de seus lábios.
- Já não podes ser minha esposa – Exclamou o deus – Será a minha planta favorita. Usarei tuas folhas como coroa; com elas enfeitarão minha lira e minha aljava; e quando os grandes campeões provarem o seu valor nas competições irei recompensá-los com elas. Também lhe concedo imortalidade, será sempre verde e tuas folhas e seu nome partir de agora será Louro.

Postado por Caio Geraldini

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sexta-feira, 3 de novembro de 2017

MEMÓRIAS


Henry foi até a cozinha. Colocou a chaleira no fogo com água. Abriu a despensa e escolheu um chá leve que tivesse efeito calmante. Encontrou o chá de erva-doce. Preparou uma xícara colocando um saquinho dentro. Pegou o pão de forma e colocou na torradeira. Henry gostava de dormir com estômago cheio.
Abriu a geladeira e pegou a manteiga. A chaleira fez um assovio leve, ele desligou o fogão pegou a chaleira e despejou a água na xícara. Esperou um pouco, tirou o sachê e acrescentou um pouco de mel, as torradas saltaram, ele colocou no prato, passou uma camada de manteiga em cada torrada e foi para a varanda. O céu estava estrelado, e um grilo tocava uma melodia no fundo.
Ele sentou na cadeira e comeu calmamente as torradas, bebeu o chá e ficou observando o céu estrelado no horizonte. Fazia tempo que ele não pensava nela. Que coisa curiosa a memória, Como conseguimos nos lembrar de coisas aconteceram há muito tempo?
Se conheceram em uma espécie de bistrô no leste Europeu em Budapeste. Henry estava com alguns amigos em viagem. Depois de muitas conversas, seu olhar repousou sobre uma garota graciosa. Era uma garota ruiva natural, nariz arrebitado e ar jovial. Ela estava com amigas. Ela se movimentava como o cisne branco da peça O Lago dos Cisnes de Tchaikovsky.
Henry pediu licença aos amigos e foi falar com ela. Descobriu que seu nome era Mia. Henry apresentou as amigas de Mia para seus companheiros de viagem. O garçom juntou as mesas e o papo se estendeu até bem tarde da noite. Mais tarde os dois resolveram dar uma volta pela cidade. Caminharam até a beira do lago que dava de frente a um enorme palácio do parlamento que por causa das luzes tinha um aspecto dourado.
– Uau, que belo. – Exclamou Henry. Estava frio, Mia encostou nos ombros de Henry, os dois haviam sentido a mesma atração. Os dois amaram a noite toda sob o testemunho das estrelas e da lua.
Na tarde seguinte, Henry e Mia saíram pelas ruas de Budapeste. Era dia de feira. Várias barracas espalhadas pela praça. Henry caminhava ao lado de Mia. Uma senhora ofereceu ao casal um cacho de uvas.
Mia sentou debaixo de uma árvore, Henry deitou em seu colo. No horizonte um lago cristalino, ela tirou da sacola o cacho de uvas e ia colocando uvas na boca de Henry.
- Te amo muito Mia – Disse Henry.
- Também te amo Henry. – Ela diz dando um beijo longo e apaixonado.
- Eu nunca irei deixar de pensar em você meu amor. Estará sempre eternizada em minha memória. – Henry disse dando mordidas no queixo de Mia.
- Promete que nunca me esquecerá?
- Prometo e Afrodite deusa do amor é testemunha.
Ela entregou um pingente a Henry com um símbolo de infinito gravado nele. Ela contou que simbolizava a memória. No outro mês Henry seguiu viagem deixando a sua garota para trás. Ele sempre segurava o pingente e se lembrava dos melhores momentos que passaram juntos.
Ele sabia que não iria encontrar ela novamente. Talvez ela esteja casada, se passaram muito tempo desde que se conheceram. Será que teve filhos?
- Será que o marido a ama igual eu amei? – Pensava ele sempre.

Já estava ficando tarde. Passava da meia-noite. Levantou da cadeira, entrou na casa e foi dormir. Aquele momento com a Mia estava eternizado em sua memória.

Postado por Caio Geraldini

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O Dândi


Já passava das três horas da manhã de uma quarta-feira. Eu estava em um quarto de bordel. Na cama estavam três mulheres completamente nuas que conheci em uma festa. Deitado no colo de uma morena enquanto a outra passava a mão em meus cabelos. A noite tinha sido longa, regada a álcool e muita farra e como um libertino eu aproveito cada momento da minha vida. Percorro meu dedo indicador na barriga da loira que chupava minha orelha e mordo o seu pescoço.
No caminho para casa comprei algumas flores. Cheguei em casa. Era um casarão enorme com dois andares e uma piscina do lado.
Marisa estava limpando as janelas com um pano branco. Me escondi atrás do muro e caminhei sem fazer barulho por trás dela.
— Adrien. Que susto garoto. Você sabe que meu coração não aguenta. — Marisa gritou e colocou a mão no peito.
— Desculpa Marisa. Estava passando pela rua quando resolvi entregar esse buque de flores para a mulher mais importante da minha vida. — falei e fiz uma reverência.
— Nossa, são lindas. Não precisava. Oh! você é mesmo um garoto de ouro. — Disse ela me beijando na bochecha.
— Foi um prazer. — disse piscando o olho.
— Menino, por onde andou? — Ela falou dando uma boa olhada em mim.
- Ah! dei uma volta pela cidade.
— Andou consolando alguma dama por aí — Ela disse me dando uma cutucada de leve.
— Marisa, Marisa. Um bom galanteador não sai por aí contando suas aventuras. Prefiro manter o sigilo das minhas garotas.
— Cuidado para não se meter em encrenca garoto.
— Ah! Marisa, eu já sou grandinho.
— Para mim, continua sendo aquele menino doce e sapeca que corria pelo jardim e roubava biscoitos da jarra. — Ela disse beliscando minha bochecha.
Marisa era como uma mãe. Ela cuidou de mim quando pequeno. Meus pais andavam muito ocupados e então, ela foi ao meu socorro. Eu e ela éramos confidentes. Muitas vezes ela me acobertava enquanto praticava minhas aventuras.
— Marisa, a senhora viu Bernardo? Preciso falar com ele.
— Ele está nos estábulos cuidando dos cavalos.
Encontrei Bernardo escovando um alazão branco. Bernardo era mudo de nascença. Encontrei ele em um circo itinerante, era magico. Ficamos amigos e o trouxe comigo.
— Bernardo, vejo que andou ocupado — Exclamei. Bernardo largou o que estava fazendo e me abraçou e me perguntou como passei a noite.
— Ora Bernardo, fui em uma festa ontem. Seduzi três garotas desamparadas e abandonadas pelos maridos. Eu sei Bernardo. Fui esperto e não deixei pistas. Me diga como andam as coisas? Viu algo suspeito?
Bernardo então me contou através de gestos que estava tudo normal.
— Está ocupado? — Perguntei. Bernardo fez um sinal que estava tranquilo.
— Vamos na cidade. Ouvi na festa que estão planejando algo.
Cheguei com Bernardo em uma carruagem. O centro estava cheio, havia ambulantes e barracas vendendo especiarias. Desci da carruagem e me misturei na multidão. Uma mulher de vestido de linho azul-claro estava apalpando tomates.
— Ora madame. — Cheguei por trás — Se apertar demais estes tomates vão estragar a textura.
— Oh! que susto. Quem é você?
— Adrien a seu dispor — Fiz uma reverência.
— Me chamo Stella. — Ela estendeu a mão e a beijei ardentemente.
— Suas mãos são perfumadas. Deixa eu adivinhar, perfume francês. Acertei?
— Nossa, você tem um olfato apurado meu rapaz. — Stella disse ruborizando.
— Cresci no meio de boticários, consigo reconhecer perfumes de longe.
— Meu pai está chegando para me buscar. Vamos fazer o seguinte. Me encontre hoje à noite na varanda da minha casa, quero que você me de algumas aulas sobre perfumes. — Ela anotou o endereço em um pedaço de papel e entregou nas minhas mãos e piscou o olho.
Guardei o papel no bolso e continuei caminhando entre as pessoas, comprei algumas especiarias e flertei com algumas garotas no caminho.
De noite após o jantar fui para meus aposentos. Coloquei uma roupa festiva e discreta. Meu quarto ficava no segundo andar. Do lado de fora Bernardo me aguardava com a carruagem. Subi pelo telhado e desci por uma corda.
— Noite bonita para encontramos uma dama necessitada — Comentei com Bernardo e ele afirmou com a cabeça.
A casa da Estella era um casarão de alto nível. Um enorme muro de pedra envolvia a propriedade. Bernardo parou a carruagem perto de uma árvore. — Bernardo, eu entrarei. Esteja aqui daqui a uma hora. — Falei ajeitando minha roupa.
Subi na árvore e pulei para cima do muro. Vejo um guarda passando fazendo a ronda. Fico imóvel e deixo ele passar, pulo no telhado e subo até a janela. Dentro do quarto Estella estava penteando o cabelo para ir para a cama. Assoviei e ela olhou assustada.
— Adrien… é você?
— Sou eu meu amor. — Respondi.

Ela abriu a janela entrei e a agarrei. Tiro minha roupa e Stella arranha minha barriga, rolamos pela cama e ela monta em mim, mordo o pescoço dela e brinco com seus seios. Ela me beija ardentemente e deseja meu corpo, fico nu e penetro fundo, ela grita de prazer. Entrelaço minha mão na sua. Stella me pede para aumentar a velocidade e eu obedeço, gozamos juntos. Uma luz no final do corredor acende. Será o seu pai?
— Sim, ele tem o sono leve. — Clara responde. — Rápido fuja pela janela.
— Te amo meu amor — Falo beijando seus lábios.
— Também te amo meu príncipe. Quando ira me ver novamente?
— Assim que seu pai te deixar sozinha.
— Stella minha filha que barulho foi esse? — o pai grita do quarto.
— Nada. Apenas tive um sonho maravilhoso aqui — ela diz e pisca para mim. Com um sorriso bobo abro a janela e pulo. Bernardo está me esperando. Eu entro na carruagem. No horizonte um coiote uiva para a lua.

Postado por Caio Geraldini

domingo, 6 de agosto de 2017

Toalha na Cama.

O homem estava na sala lendo um livro quando sua mulher aparece bufando na sala.
- Quantas vezes tenho que repetir para não deixar a toalha molhada em cima da cama? – Ela disse gritando e gesticulando.
- Tenho uma explicação completamente plausível para isso. – O homem fecha o livro, coloca na mesinha ao lado, respira fundo algumas vezes.
- Qual a desculpa dessa vez? - Disse a mulher de braços cruzados batendo o pé no chão.
- O jogo já tinha começado e você sabe que eu sou flamenguista roxo. O flamengo detonou com o Vasco.
- Das desculpas esdrúxulas essa foi a campeã. Mamãe tinha razão. Você nunca prestou. Você sempre foi avoado, você não presta atenção em nada.
- Claro que presto meu amor. – O homem fica em pé e tenta fazer um carinho na esposa, mas ela dá um passo para trás.
- A é? Que dia é nosso aniversário de casamento? – A esposa estava furiosa.
- Ah essa é fácil. Dia 16 de agosto.
- Não presta atenção em nada. 14 de Abril seu jumento. – A esposa eleva o tom de voz.
- Ei... Não precisa ofender. Errei por pouco. Também não é assim.
- Ah claro errou por quatro meses. Falando nisso estamos em Outubro e você sequer se lembrou. Sabe o que a Lurdinha aquela nossa vizinha disse? Ela disse que nosso casamento está indo por água abaixo.
- Você foi buscar conselhos com aquela maluca que acredita em horóscopo? Poxa amor você está exagerando eu ando preocupado com o trabalho e com essa crise que está acabando com o país. Dá um tempo.
- Tempo? Ah o rei quer ter tempo? Ok majestade você tem todo o tempo do mundo – a mulher disse em tom de deboche - Mamãe sempre me alertou sobre você.
- Citar sogra não vale, sogra já nasce destinada a ser um terror na vida do genro. Todo mundo sabe que sogra é o demônio encarnado.
- Ta chamando minha mãe de demônio? Demônio é a sua vó. – Ela fica mais furiosa.
- Não é isso. Desculpa. Eu errei, sei que não devia ter colocado a toalha molhada em cima da cama. Me desculpa?
- Não venha se fazer de santinho agora. Faz besteira e apenas um pedido de desculpas resolve? Quero ação, ah mas se eu te pegar colocando toalha molhada na cama outra vez. Vou fazer picadinho de você.
- Meu amor, mas eu já pedi desculpas, eu juro que não vou fazer mais isso.
- Não aprende mesmo. Você pensa que sou besta? Tenho cara de otária?
- Não, meu amor – Diz o marido colocando a mão no rosto da esposa e esfregando a bochecha com os dedos. – Eu nunca pensaria isso de você. Me perdoa? Vamos esquecer isso e ir dormir, já está tarde.
- Como eu posso esquecer? A cama agora está molhada e justamente na parte onde eu deito, se eu pegar um resfriado eu te mato.
- Ok vamos fazer assim. Vamos trocar de lado, eu durmo no lado molhado e você dorme no lado seco. Pode ser?
- Pode sim. Mas já aviso. Na próxima vez eu não te perdoo mais.

O casal deita na cama e o homem apaga a luz.

Postado por Caio Geraldini

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Juntos Para Sempre

Márcio era casado com Rosângela há 30 anos. Se conheceram em um boteco badalado no fim de tarde. Rosângela chegou com as amigas e logo escolheram um lugar para sentar. Ângela sua amiga chamou o garçom.
- Uma rodada de chope.
- Algo mais para comer? – Perguntou o garçom.
- Eu quero dois espetinhos de carne.
- Quero três.
- Quero apenas um – Disse Rosângela tentando se manter na dieta.
Do outro lado estava Márcio sentado junto ao balcão tomando uma pinga, assistindo ao jogo do Timão.
- Puta que pariu, que juiz ladrão. – Bradava ele.
- Zé me vê mais uma que hoje eu to nos nervos.
O garçom passa por Márcio e vai até a mesa das garotas. Márcio já bêbado encara achando graça – Já não fazem mais bares como antigamente.
Quando os seus olhos se encontram com Rosângela foi amor à primeira vista ou diria a primeira pinga. Ele se levantou com a determinação de 50 cachorros quando jogam alguma coisa para eles pegarem, e foi em direção à amada. Se apaixonaram, passou 8 meses se casaram.
Os primeiros anos foram uma maravilha. Era raro não encontrar os dois trocando carinhos, e palavras de afetos pelos cantos em eventos sociais.
- Paixão aceita mais uma coxinha?
- Obrigado Paixão, te amo, venha me dar um beijinho.
Após cinco anos de casamento Rosângela resolveu voltar a estudar. Ela terminou a faculdade fez pós graduação, mestrado, doutorado.
Tiveram dois filhos, o filho mais velho fazia engenharia e o filho mais novo fazia ensino médio, ambos eram acima do peso. Rosângela infeliz com o casamento resolveu fazer uma cirurgia plástica, que ela chamou carinhosamente de “Recauchutar”. Ela passava em frente ao marido várias vezes e o marido continuava vendo o jogo de futebol impassível apenas movimentava a mão para colocar a cerveja na boca. Até que ela deu o ultimato.
- Amor quero divórcio.
- O QUE? – Ele gritou derrubando o controle remoto.
- Isso mesmo que você ouviu, já estou cansada de não ser notada.
- Como não? Sempre te vejo quando passa na frente da TV, até mando você sair da frente.
- Você só liga para a TV. Não aguento mais.
- Você está exagerando.
- Já me decidi, sou formada, tenho pós, mestrado, doutorado, não preciso mais de você.
- Meu amor, pense nas crianças...
- Já pensei nisso, você fica com elas.
- Eu ficar com as crianças? Você está maluca Rosângela?
- Maluca estava eu quando me casei com você, agora chega vou achar meu caminho.
No outro dia um amigo do Márcio que era advogado e maluco por um rabo de saia resolveu colocar a Rosângela no eixo.
- Vocês são casados há 30 anos, puxa vida, é quase uma vida... – Ele começou falando.
- Uma vida mal gasta. Podia estar com um homem mil vezes melhor.
- Certo...  E como você vai se virar? Ser professora?
- Na verdade, já pensei muito e vou ser isso... – Rosângela sobe na mesa e tira o blazer mostrando uma roupa de Stripper. – Vou ganhar a vida assim, eu sou feliz assim.
O Márcio e o advogado ficaram chocados com a cena, uma mulher de meia-idade usando sutiã com peitos a mostra, uma calcinha fio dental e meia calça de renda.
-E para os amigos rola algum desconto? – Diz o advogado. 

Postado por Caio Geraldini