Ângela
Barros chega de táxi em um prédio de sete andares. Ela paga o taxista. Ângela
descobriu um teste para figurante em uma novela programada para as 14 horas.
Ângela
entra no apartamento no 5º andar. Coloca as malas no chão e anda pela casa. A
faxineira da imobiliária havia deixado tudo pronto. Abriu a geladeira e viu que
estava vazia. Olhou os quartos, o banheiro, voltou para a sala e pegou suas
malas e levou para o quarto. Trocou de roupa e foi almoçar em um restaurante de
esquina.
“Se eu passar nesse
teste, será a realização do meu sonho de criança. Tomara que dê certo” Pensou Ângela
no caminho ao restaurante.
Ângela
estava na porta do estúdio as 14 horas. Ela havia chegado atrasada e já estava lotado,
havia uma senhora gorda de cabelos loiros em uma mesa com as pernas para cima.
De tempos em tempos ela berrava: “PRÓXIMO” assim que uma das participantes
saiam com o rosto abatido, desejando uma segunda chance.
“Se eu tivesse
dormido cedo noite passada eu teria me saído melhor” Pensou uma linda garota ao
passar pela senhora gorda. A gorda apenas deu um sorriso e gritou “PRÓXIMO”.
- Ângela, Tome aqui o
seu crachá- A gorda entregou um crachá para Ângela - Sente naquela cadeira que iremos te chamar.
Ângela
sorriu e sentou junto das demais. As concorrentes eram lindas, estavam todas
bem vestidas e cabelo impecável. Seria difícil conseguir o papel, mas ela já
tinha ido longe demais e não iria desistir tão facilmente. Cerca de 2 horas depois,
a sala estava vazia só restando ela e a mulher obesa.
- PRÓXIMO! – A mulher
gorda gritou.
Ângela
já tinha lido uma revista de moda da edição de primavera de 1998 inteira várias
vezes, já sabia de cor que Pâmela Andes havia desfilado com um vestido vermelho
com detalhes de flores de rosas. Ela fechou a revista se levantou e entrou na
sala. A sala era grande, tinha um telão branco e dois holofotes do lado e uma
câmera no meio, um armário e um provador. Um homem de media estatura, cabelos
grandes e usava óculos azul.
- Olá, você deve ser
a Ângela Barros. Seja bem vinda – falou com um sotaque francês aportuguesado.
- Obrigada – Ângela
disse.
- Por favor se dirija
ao provador e troque de roupa.
Ângela
foi até o provador e colocou um vestido branco, voltou e parou na frente do telão
branco, uma assistente apareceu e ajeitou o seu cabelo. O diretor foi até ela e
entregou o roteiro. A cena era em uma praça, o protagonista e a protagonista
estariam conversando no banco da praça e a garota de vestido branco iria passar
andando e dar boa tarde para os dois.
- Leia esse texto
minha querida – diz o diretor.
- Boa Tarde. – Ângela
falou de forma mecânica.
- Mais uma vez, com
naturalidade como se estivesse andando no parque e diz boa tarde.
- Boa Tarde. – Soou
natural o bastante.
- Sim, obrigado, só
um momento enquanto conversamos aqui.
Ela
volta para a recepção a gorda da outra olhada nela e continua fazendo palavras-cruzadas.
Passou uma hora, o próprio diretor abre a porta e chama por Ângela.
- Você é uma garota
de sorte, foi escolhida para interpretar uma figurante. Começamos as filmagens
daqui a 4 dias.
Ângela
sai com um sorriso radiante. Sempre sonhara em ser atriz, adorava assistir novelas.
Era apaixonada pela indústria da teledramaturgia. Ela vai ao mercado e compra
algumas coisas. Em casa sua cabeça já funciona a mil por hora. Antes de dormir,
fica treinando no espelho o seu “Boa Tarde”.
Ângela
chega ao estúdio. Já haviam começado as primeiras tomadas dos protagonistas no
apartamento e agora os dois saíram para passear no parque.
“Então minha querida,
você vai andar pelo parque, os dois vão estar sentados discutindo uma briga que
tiveram na noite passada e você vai passar por eles e dar boa tarde.” Diz a assistente
do diretor enquanto encaminha Ângela para o provador. Ângela coloca novamente o
vestido branco e vai até à praça. O céu estava especialmente azul com poucas
nuvens.
- E AÇÃO. – Grita o
diretor
Os
protagonistas andam pelo parque de mãos dadas, eles sentam em um banco de madeira.
- Eu ando muito
estressado. Por isso gritei com você daquele jeito, me perdoa – Disse o
personagem.
- Você tem que
escolher não deixar o seu trabalho afetar nossa relação, poxa. – Fala a
protagonista.
Ângela se aproxima com
um sorriso no rosto e diz “Boa Tarde.”
- CORTA – maravilha.
Recomeçamos depois do almoço.
Vários
repórteres de revistas e blogs de fofoca furaram o bloqueio para tirar fotos e
entrevistar os atores. Em alguns minutos a locação estava cheia de gente e Ângela
ficou no canto olhando aquilo. “Tomara que um dia eu esteja lá no meio, dando
entrevistas.”
Ângela
veio do interior do Estado, uma cidade pequena com pouco mais de mil habitantes.
A cidade tinha como principal fonte de renda a agropecuária. Sua família o pai
era fazendeiro semianalfabeto e a mãe largou a escola com 18 anos quando se
casou. Desde então cuida da casa. O casal teve cinco filhos, quatro homens e
Ângela a mais nova. Os filhos trabalhavam ajudando o pai na fazenda enquanto
Ângela ajudava na casa. Seu futuro era se casar e assim como a mãe seria uma
dona de casa.
Quando
Ângela contou a sua família seu sonho de ir para a capital tentar ser atriz de novela,
sua mãe desmaiou e o pai bateu a mão tão forte na mesa que quase a partiu no
meio.
- Minha filha, você
está proibida de pensar nessa possibilidade, onde já se viu. Uma garota se
envolver com aquela “gentinha” que só sabem se prostituir, e ficar esbanjando
dinheiro por ai. – Disse o pai elevando a voz.
- Mas... pai...
- Nada de “mas pai” está
proibida. – Disse o pai de forma incisiva.
- Mas é meu sonho. -
Ângela tentou argumentar.
- Seu sonho é ficar
aqui, ajudar a sua mãe na casa, se casar, ter filhos e ajudar a sua casa e por
ai vai.
- Minha filha, escute
o seu pai. Aquela gente não presta, são predadores - Dizia sua mãe em prantos.
- Eu vou ser famosa,
irei trazer dinheiro para nossa casa.
- Não queremos aquele
dinheiro sujo de prostituição, drogas e jogos. – Seu pai deu outro murro na
mesa assustando o cachorro que dormia embaixo da mesa. Essa raiva toda não
durou uma semana. Na outra semana eles conversaram e resolveram apoiar a filha.
No dia da despedida a família toda estava na estação de ônibus. A mãe chorava e
o pai abraçou Ângela. “Minha filha, tome cuidado, não confie cegamente em
ninguém. Esse pessoal é como lobos famintos procurando uma nova vítima, seja
mais esperta que eles.” Disse o pai dando um beijo na testa da filha.
- Toma cuidado. Mamãe
ama muito você – Disse a mãe abraçando.
Ângela
estava em casa cuidando de uma jardineira quando recebeu um telefonema, era um
agente falando que viu sua atuação na cena da praça e achou maravilhosa. Ele
perguntou se ela queria ser agenciada. Ela agradeceu e disse que ia aceitar,
afinal era seu sonho pensou ela.
- Ok, passo ai as 15
horas para assinarmos os papeis.
Ela
assina o contrato e passou a ser agenciada. Uma semana se passou, de manhã ela acorda
com um telefonema de seu agente dizendo que conseguiu um papel de destaque em uma
novela, não era um papel principal, porem ela iria fazer mais que dar boa
tarde. A novela foi um sucesso, ela foi indicada ao Globo de Ouro de melhor
atriz coadjuvante.
Ângela
havia sido convidada para festa de estreia como protagonista. Ela chegou no seu
carro esporte, o manobrista abriu a porta e ela desceu. Ângela estava vestida
com um lindo vestido cor azul turquesa. Logo na entrada viu o diretor da sua
primeira novela de sucesso, ele estava com duas mulheres cada uma em seus
braços.
Dentro
do salão de festas os convidados estavam dançando; velhos empurravam moças para
trás em incessantes giros desajeitados, casais que dançavam melhor se enlaçava
tortuosamente, com elegância, conservando-se nos cantos, e um grande número de
moças sozinhas dançavam individualmente. À meia-noite a alegria havia
aumentado. Um DJ famoso da Europa colocou uma música animada e todos se
animaram. Ângela encostou em um bar. Um homem muito bonito se aproximou.
- Olha se não é um
anjo que foi expulso do céu e agora habita as noites das grandes cidades. Meu
nome é Jordani, sou um ator, fiz várias novelas e filmes. A quem tenho a honra?
- Meu nome é Ângela.
É a minha primeira festa desde que estreei a nova novela das oito. Estou meio
perdida.
- Encantado – Jordani
beijou a mão de Ângela. – Serei o seu guia então.
Alguns
meses mais tarde. Se casaram em uma cerimônia discreta e passaram a lua de mel
nas ilhas gregas. Tiveram três lindos filhos. Ela continuou fazendo novelas e
se aposentou com 56 anos.
Postado por Caio Geraldini
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