Era começo do outono em Paris, as folhas já estavam
alaranjadas, o clima estava agradável. Parei o carro perto de um café bistrô.
Logo à frente a Torre Eiffel destacava no cenário. A porta fazia um barulho de
sino quando alguém abria. Uma garçonete simpática me cumprimentou com um
sorriso e me levou até uma mesa perto de uma janela. Do lado de fora pessoas
caminhavam pela calçada e um senhor varria as folhas no chão.
- Olá,
sou a Catarina. O que deseja beber? – Garçonete me entregou o cardápio e já
estava com um bloco de notas nas mãos.
- Por
favor um Vanilla Latte.
- Deseja
algo para comer? Temos uma torta de maçã divina.
- Por
favor traga uma porção de croissant recém tirado do forno.
- Pode
deixar. – Ela anotou no bloco de notas e saiu.
Estiquei as pernas debaixo da mesa cruzando os pés.
O relógio marcava 9:30. No fundo um grupo de executivos reunidos comentava
sobre um novo empreendimento.
Alguns minutos depois entra um rapaz jovem, tinha o
cabelo arrepiado, usava uma camiseta laranja e calça jeans. Ele caminhou em
minha direção. Fiz um sinal e ele se sentou pegando o cardápio.
- Sugiro
experimentar o Vanilla Latte, é uma delícia.
Vem com aromas suaves de canela e gotas de chocolate. – Falei
- Hum me
parece interessante. – Ele respondeu folheando o cardápio. - Bom te ver Henry, quanto
tempo. – Ele pousou o cardápio na mesa, abriu um sorriso.
- Pois é Pedro,
quase uma eternidade.
- Como
está a família?
- Vai
bem. E a sua?
- Ótima,
também. Fiquei sabendo que está namorando. – Ele me disse.
- Como
ficou sabendo?
- Olhei
no Facebook, parabéns, Fernanda é linda.
- Cara...
Fernanda foi a melhor coisa que me apareceu. Estava em uma festa com amigos
escritores. Ela estava meio deslocada no ambiente. Falei com ela e foi amor à
primeira vista, desde então estamos juntos.
Catarina voltou segurando um bloco de papel e uma
caneta. Pedro então pediu um expresso. Pedro virou para mim, fez beiço e
balançou a cabeça de forma afirmativa. – Lá em Londres não se tem garçonetes
como essa. Na Inglaterra as mulheres ou estão acima do peso, ou magras com cara
de esquilo.
- Só você
mesmo para encontrar defeito nas inglesas.
- Apenas
relato o que vejo. Mulheres possuem uma beleza diferente e subjetiva. Você lembra
da Marcela do primeiro ano? Aquela que você morria de amores e ela não te dava
bola?
- Lembro.
Sofri na mão daquela garota durante sete anos.
- Pois é.
Eu não achava ela tão bonita. Não sei porque, ela tinha muita bochecha para
pouco rosto.
- Não
fale assim. Ela puxou a mãe. Mas tem razão, depois que ela falou com todas as
letras que não queria nada comigo, comecei a ver que me apaixonei pelas
bochechas em vez dela.
- Sabia
que ela se casou?
- Serio?
- Sim, casou com George. Casaram em Junho na igreja que frequentávamos. Parece que
estão felizes.
A garçonete surgiu com a bandeja com dois cafés e
uma cesta de croissants recém tirados do forno. Um cheiro delicioso exalava do
café e dos croissants. Peguei um, coloquei no prato e abri para sair um pouco
do vapor.
- Mas
então Henry. O que anda aprontando?
- Comecei
a escrever para um jornal local, escrevo contos.
- Lembro
de você escrever contos na época de escola. Fico feliz que tenha seguido essa
carreira. Era o que você sempre quis.
-E você
meu amigo o que anda aprontando? – Perguntei após tomar um gole do meu café.
- Acabei
de voltar de Londres. Passei seis meses comendo peixe e fritas, não aguento
mais nem sentir o cheiro.
- Já fui
em Londres. Realmente fritas e peixe todo dia é enjoativo.
- Então...
trabalhei lá em um escritório, conheci uma escocesa no ano novo. É uma ruiva
espetacular, o cabelo dela lembra as folhas do outono.
- Que dia
vai me levar para conhecer a sua ruiva?
- O dia
que você me levar para conhecer a Fernanda.
- Vamos
combinar de fazer um jantar na minha casa.
- É só
convidar meu caro.
Pego um croissant de queijo e coloco na boca e
mastigo sentindo o aroma e o gosto, bebo um pouco de café, meu amigo faz o
mesmo. Ficamos um tempo em silencio apenas aproveitando o momento.
- Sabe,
senti muito a sua falta – limpei a garganta e comecei a falar. - Senti falta de
sair com você nas noites para conhecer garotas.
- Sim,
bons tempos. Lembra aquela vez que quase teve uma briga porque você estava
dando em cima de uma garota e o cara que gostava dela apareceu?
- Se não
fosse você para tentar acalmar ele, eu tava perdido.
- Não foi
nada, amigo é para essas coisas.
Antes de sairmos do café comprei uma garrafa de Gim.
Já estava fazendo frio, sentamos em um banco de concreto em uma praça e ficamos
bebendo e conversando sobre algumas lembranças do passado. Uma pomba cinza
pousou no chão e começou a bicar uma pipoca que foi largada no chão.
- Quando
vai voltar para Londres? – Perguntei após tomar um trago.
- Depois
do almoço. Fiquei aqui só o final de semana, tenho que voltar. Vamos fazer um
lançamento imobiliário e tenho que cuidar da papelada.
- Fala
para a rainha que mandei um abraço.
- Pode
deixar. No próximo chá das cinco eu dou o abraço.
- Ainda
temos muita coisa para conversar – Falei dando tapas de leve no rosto dele.- Quando
ira voltar para Paris para conversarmos?
- Talvez
mês que vem. Quem sabe na primavera.
- O
inverno está chegando. Se agasalhe bem. Não vá pegar uma gripe.
- Não se
preocupe comigo. Estarei seguro. Agora preciso ir, tenho que resolver algumas
coisas antes de me preparar para o voo. Você vai ficar bem? – Ele disse olhando
nos meus olhos.
- Vou
sim. Tenho que terminar um texto para entregar amanhã. Então vejo que é a última
vez que a gente se encontra.
- Não
fale isso, até parece que vou sumir para sempre. Venha me visitar algum dia.
- Vamos
combinar por telefone.
- Vou
estar aguardando. – Pedro me dá um abraço apertado e demorado. Ele entrou em um
táxi. Ainda sentado no banco tomei o restante do gim e fui para casa terminar
meu texto.
Postado por Caio Geraldini
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