terça-feira, 1 de novembro de 2016

Estranhos na Noite


Em um bar qualquer. O relógio velho faltando o ponteiro dos segundos marcava 19:45. No fundo tocava uma música de jazz.
Uma garota de 30 anos, bem vestida com uma saia preta e camisa branca, seu cabelo longo está solto. Está sentada sozinha em um banquinho no balcão, ela estava com um copo de Martíni. Ela brincava com o palito entre os dedos que outrora estava com uma azeitona. O celular dela está em cima da mesa. Ela está no seu momento, não quer ninguém atrapalhando.  
– Garçom, por favor outro Martíni com o dobro de Vodca. – O garçom depositou o copo no balcão, ela bebeu um pouco e ficou recapitulando o que aconteceu no dia. Ela teve reuniões com investidores estrangeiros o dia todo.
Do lado de fora começa a cair uma chuva fina popularmente chamada de chuvisco. Os carros acionam o para-brisa, começa uma sinfonia de buzinas. A garota se ajeita na cadeira e começa a batucar na mesa ao som da música de fundo.
A porta do bar abre, entra um homem de terno risca giz, cabelo com gel penteado para trás, barba fechada e bem alinhada. O homem então chega no balcão - Ei meu chapa, me vê uma gelada aí.
O homem bebe direto na garrafa molhando a garganta seca. Ele toma um longo gole e olha para a garota sentada do seu lado com a cabeça baixa franzindo a testa mexendo no celular.
- Dia difícil? – perguntou o homem.
- Ah sim - Ela se assusta e levanta o rosto. - hoje foi um dia daqueles. Desculpa mexer no celular enquanto falo com você.
- Não se preocupe. Também não paro um minuto, então deixei meu celular dentro do carro, a propósito me chamo Henrique – ele estende a mão.
- Prazer, Mônica – diz ela pegando na mão dele.
- Então, você frequenta muito esse bar? – Ele bebe mais um gole da cerveja.
- Ah sim. Venho aqui quase todo dia antes de ir para casa. É meu lazer. – Mônica joga para o lado uma mecha de cabelo que caía sobre a sua testa.
- Legal, estava saindo do tribunal no caminho o trânsito começou a engarrafar então resolvi vir aqui. Que coincidência não é mesmo?
- Ah sim, muita.
- Deixa eu adivinhar, você trabalha em banco. Acertei? – Ele perguntou sentando no banco do lado dela.
- Quase. Sou corretora de uma empresa de investimentos imobiliários.
- Uau. - Henrique arregala os olhos - Meus cumprimentos.
A chuva começou a engrossar. As gotas batiam em um toldo branco do lado de fora e escorria caindo em uma cadeira. Do outro lado da rua um homem corria protegendo a cabeça e se escondeu embaixo de uma marquise.
- Faz tempo que não chovia. Vejo que vou demorar o dobro do tempo para chegar em casa – Comentou Henrique olhando para fora observando o trânsito.
- Me conte. O que faz da vida? – Mônica chegou mais perto.
- Bem, sou advogado tributarista. Presto consultoria para empresas que querem fugir de tributos altos.
- Entendo... O que você sugere para minha empresa ter mais lucro e pagar menos tributo?
- Desculpe essa informação custa R$ 600,00 reais. Mas se você for realmente curiosa podemos compensar com mais uma rodada.
- Ah desculpar doutor. Não sabia que estávamos em seu escritório. – Mônica falou em tom de deboche.
- Gostei de você. É esperta.
- Obrigada. Também gostei de você. É o primeiro homem que não chega com cantadas de pedreiro ou com papo furado de perguntar as horas ou falar sobre o tempo.
- Puxa. Quantos homens são desse jeito?
- Só hoje foram uns 10. Mas o movimento foi fraco.
- Hummm. Concorrentes. Parece um jogo divertido.
- Aproveita que você está em vantagem e me chama para sair. – Mônica pisca.
- Hahaha uau. Não esperava por isso.
- Hahaha. Viu como é ruim receber cantadas, acham que é só chegar falar um papo mole e pronto, você está pronta para ir para cama com ele.
- Estou impressionado. Está corretíssima.
Henrique olhou no relógio – Ih já é quase nove horas. Eu não sou dessa cidade, você mora aonde? Para eu ver se é caminho do flat onde estou hospedado. Quer carona para casa?
- Que isso. Não precisa não, a chuva já diminuiu, eu vou assim mesmo. Moro aqui perto.
- Não. Já está tarde e é perigoso. Venha, eu te levo. Prometo não atropelar ninguém.
- Não sei se devo. – Pensou Mônica. Afinal, ela estava aceitando carona de um completo estranho. Mas afinal, esse rapaz não parece ser ameaçador, está bem vestido, e é preferível com ele do que ir no escuro.
- OK. Aceito sua carona.
Os dois entraram no carro. O carro era uma Mercedes último lançamento. Isso confortou Mônica. Foram conversando sobre a vida, rotina e causos engraçados. Mônica talvez por causa do álcool se sentiu mais relaxada, soltou os cabelos e encostou no ombro do rapaz.
- Ei. Não vai dormir agora, estamos quase chegando.
- Ah que pena. Sabe você é a melhor companhia que eu já tive nesse dia cheio, o resto dos rapazes só sabiam falar de negócios, investimentos, bolsa de valores e crise econômica.
- Se quiser começo a falar dos meus problemas jurídicos.
- Isso me fale.
- Melhor não. Não quero que você morra de tédio.
Mônica encosta no ombro de Henrique e cochila, acordando quando o carro freava. – Acho que bebi demais.
- Você está bem?
- Sim sim, estou ótima.
- Acho melhor você passar a noite no hotel comigo.
- Eu não quero incomodar. – Mônica havia gostado do rapaz, ele era simpático, engraçado, inteligente.
- Não vai incomodar.
O carro estaciona na porta do hotel. O manobrista abre a porta para Mônica, ela desce e Henrique acompanha até o saguão. O hotel era cinco estrelas, o saguão era enorme. O recepcionista do hotel. Um francês de nariz arrebitado com um crachá no peito escrito Pierre LeMont.
- Bonjur, Monsieur Henrique. – Falou Pierre com um sotaque francês carregado.
- Bonjur Pierre. Chave para o quarto 646 por favor.
- OK. Vejo que está acompanhado com uma madame.
- Bonjur Comment allez-vous (como você está?) – Mônica pergunta ao gerente.
- Oh bien.
- Vamos para o quarto. – Henrique segura nas mãos de Mônica e ela aperta.
Eles entram no elevador, nisso Mônica esta encostada nos ombros do rapaz, Henrique sente o perfume doce e sente algo dentro de si. Um impulso forte, ele a abraça e ela abraça mais forte, os dois se beijam. Foi um beijo demorado. O elevador chega no andar. O apartamento era grande, uma suíte presidencial, dúplex com um closet enorme. Chão de madeira e uma cama de casal com lençol branco. Henrique vai ao banheiro. Mônica observa o ambiente.
- Vejo que convidei uma bisbilhoteira – Henrique surge ao ver ela mexendo em seus livros.
- Ah não, estava apenas olhando. Muito bonito o seu apartamento.
- Você ainda não viu nada. Já escutou jazz?
- Ah sim. Meu pai quando era solteiro tocava saxofone em uma banda de jazz.
- Então escuta esse som.  - Ele coloca um disco do John Coltrane.
- Meu deus, adoro essa música. Meu pai tocava quando eu era pequena para me fazer dormir.

Henrique então pega nas mãos de Mônica e começam a dançar ao som da música. Os dois se beijam mais uma vez. Passaram a noite os dois juntos bebendo uísque. John Coltrane fazia o tema da noite. Do lado de fora a chuva cai fina como uma cortina fechando a noite.

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